domingo, 4 de maio de 2014

Adaptação da Fábula “Os Animais e a Peste” ao Drama do Aposentado

 
ERA UMA VEZ… Conta-nos a fábula de Monteiro Lobato, “Os Animais e a Peste”, que num determinado período, no imaginário Reino Animal, a peste proliferava matando seus habitantes.
Os animais muito assustados, temendo ser a epidemia um castigo dos céus, resolveram criar um tribunal para condenar uma fera ao holocausto. Esperavam com o animal sacrificado e oferecido aos deuses, aplacar a ira divina. O condenado deveria ser entre eles o animal mais cruel, o maior predador, aquele que carregasse nas costas o maior número de pecados.
Todas as feras fizeram então suas confissões, narrando as maiores atrocidades cometidas. Dentre todos os animais, com feras carniceiras e assassinas, foi considerado culpado um pobre burrico pelo único crime de ter comido uma folha de couve da horta do senhor vigário. Assim, sacrificaram o pecador burrico apontado como o único culpado pelo avanço da peste. Moral da história: “Aos poderosos tudo se perdoa, aos miseráveis nada se desculpa”, ou ainda, usando outro refrão: “A corda sempre arrebenta do lado mais fraco”.
Exatamente é a mesma coisa o que acontece com um terço de aposentados do Regime Geral de Previdência Social, que recebem de aposentadoria mais de um salário mínimo. São considerados os únicos culpados pelo desequilíbrio que juram existir nas contas da Previdência, da mesma forma como o burrico foi acusado de ser o único responsável pela propagação da peste. O único crime dos aposentados é receberem proventos um pouquinho acima do piso, o que pode ser comparado ao crime do burrico que comeu uma única folha de couve do senhor vigário. São os aposentados pacatos como o humilde burrico e igualmente indefesos, sem forças físicas e recursos financeiros para se defenderem. E nenhuma autoridade dos poderes públicos tem interesse algum em defendê-los, seguindo o mesmo exemplo dos maiores predadores da fábula, à procura de um bode expiatório para pagar pelos crimes alheios…
É de fato o aposentado o lado mais fraco dessa contenda, fácil de manipular, de ser discriminado, para que possam sem chamar muito a atenção desviar das contas previdenciárias recursos para outras contas não ligadas aos trabalhadores. Dizem que um desses desvios é para suprir o ‘bolsa família’, o que seria até muito louvável se fosse por um prazo curto e se fizessem o desvio de outras fontes, não prejudicando os trabalhadores/aposentados. É o exemplo típico de outro provérbio popular, quando tentam solucionar problemas cabeludos de modo equivocado: “Usa-se um cobertor curto, cobrindo-se a cabeça, mas, lógico, descobre-se os pés.”
O aposentado que deveria ser reconhecido pelo muito que contribuiu para o crescimento do Brasil, é esquecido, desprezado, humilhado, desamparado por autoridades acomodadas, que deveriam fazer a justiça social prevalecer, mantendo sempre igualdade na distribuição de renda entre todos os trabalhadores ativos e inativos. A cota de sacrifícios, quando necessária, deveria ser dividida de forma igual entre todos os segmentos do mercado de trabalho, incluindo-se aí, também, todas as autoridades poderosas que prestam serviço público.
Da mesma forma o tempo das vagas gordas deveria ser direcionado para todas as categorias de trabalhadores, sem exceções. Não se pode melhorar o poder aquisitivo de alguns aposentados tirando dos outros aposentados, resultando que por causa desta política injusta e sem nexo, estes últimos aposentados já perderam mais da metade da sua aposentadoria inicial. Isto não é correto, não é legal, não é louvável! Faltam inteligência e coerência nestes homens públicos, incompetentes para conduzir a massa trabalhadora do Brasil! Enquanto dois terços de aposentados são compensados com aumentos reais do salário mínimo, um terço dos outros aposentados do mesmo regime, tem o seu poder de compra diminuído por não receberem de reajuste o mesmo percentual dado ao salário mínimo, que, sabemos, é o valor mínimo vigente para a circulação da moeda. Dentro de mais algum tempo, todos os aposentados estarão recebendo somente um salário mínimo, não se considerando mais os valores desiguais pagos por trabalhadores ao INSS, por força de um contrato. Virou portanto um autêntico “samba do crioulo doido”, como diz a música popular. O valor descontado na forte pelo trabalhador quando ativo, não interessa agora aos nossos três Poderes Públicos.
# Que setores, principalmente dos poderes executivo, legislativo e jurídico, com seus já abusivos salários, concordariam em ter todos os anos em vez de aumentos reais que tanto cobiçam, somente reduções nos seus salários conforme imposto ao aposentado? Claro, nenhum! Não querem só a reposição da inflação, mas sim, aumentos verdadeiros no seu poder aquisitivo. Aí não convém o governo mexer com celebridades para não criar confrontos desnecessários. Vamos continuar sacrificando os aposentados que são trabalhadores improdutivos, um peso inútil para o país e sem qualquer representatividade. E… ja se vai 17 anos de preconceito e discriminação contra o fragilizado previdenciário do setor privado.
# Que país é este que pune o trabalhador que se aposenta com um corte na aposentadoria que pode chegar até 40%? É o fruto amargo dado ao trabalhador como presente, chamado de Fator Previdenciário. 
# Que país é este em que o Congresso promulga dois percentuais diferenciados nos reajustes de aposentados? Seria a mesma coisa se uma empresa sólida, idônea, corrigisse o salário de seus empregados com maior percentual para os que ganham menos, punindo os que ganham mais com percentuais menores! Isto nunca poderá ser considerado, oh insensatos, melhor distribuição de renda como pregoam a plenos pulmões -já tiramos milhões de brasileiros da linha da pobreza-…
# Que país é este que a Câmara dos Deputados esconde projetos de aposentados e aposentáveis no fundo das gavetas, há muito aprovados pelo Senado Federal? Onde está o entrosamento entre essas duas Casas Legislativas que coordenam as leis do país? Uma discute e aprova projetos, e a outra, não admite sequer que constem das pautas de votação, enquanto o Senado Federal se acomoda sem exigir da Câmara dos Deputados também bote em votação aqueles projetos?
# Que país é este que empurra seus aposentados para baixo, tirando do aposentado/burrico que ganha um pouco acima do piso, em vez de tirar dos verdadeiros marajás que sugam as tetas do Brasil com salários milionários? Um país justo e soberano considera suas crianças e idosos como cidadãos intocáveis…
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É por isso que a história vivida pelo aposentado, sempre esquecido e prejudicado, pode ser adaptada à moral contida na fábula “Os Animais e a Peste”. O nosso Monteiro Lobato deveria estar muito inspirado quando a criou: >Atirou no que viu e acertou no que não viu<. Não sabia ele que a sua notável fábula, estaria hoje, depois de muitos anos, servindo de forte referencia para uma denúncia nacional e internacional sobre o covarde massacre imposto ao pobre aposentado brasileiro.

Almir Papalardo.
almirpapalardo@yahoo.com.br


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